Após longo recesso, volto trazendo, com algum atraso, a minha lista de melhores séries de 2016. Previno que a lista é minha, o que não quer dizer que sejam “as melhores séries” sob qualquer prisma, mas sim as melhores “em minha opinião”. Ressalto ainda que não sou apreciador de comédias, o que limitou um pouco a análise.
Sei que o pessoal vai reclamar, mas o fato é que não gosto de Walking Dead e nem sei se a temporada foi boa ou não. As séries de super-herois até assisti a algumas, mas não consigo levar essas coisas muito a sério, apesar de reconhecer alguma qualidade nelas. Mr. Robot se perdeu na segunda temporada e as inglesas Wallander e Vera não vieram na qualidade habitual.
Homeland foi adiada para 2017. The Affair teve temporada muito irregular. The Man In The High Castle, da Amazon, evoluiu, mas ainda há caminho a ser percorrido no desenvolvimento dos personagens.
Continuamos à procura de algo da qualidade de A Escuta (The Wire), A Família Soprano (The Sopranos), Mad Men ou Breaking Bad. Apesar de ainda não podermos apontar substitutas à altura dessas produções, posso dizer que o ano de 2016 foi muito bom.
Seguem abaixo as melhores séries do ano.
9. Line of Duty – Essa série inglesa sempre me despertou interesse por abordar, ainda que lateralmente, o tema dos indicadores e seus efeitos sobre o trabalho da polícia. O maior interesse da série, no entanto, sempre foi a abordagem das dificuldades de se ter uma corregedoria eficiente, seja pelo corporativismo, sempre presente em qualquer grupo social, seja pela corrupção e pelo tráfico de influência. A série cresceu muito com os anos e a quarta temporada, exibida ano passado, foi sensacional.
8. The Americans – Acompanho com interesse essa série desde a primeira temporada. A história descreve a rotina de um casal vive nos EUA como uma família americana, criam filhos, trabalham, mas são agentes soviéticos. O série se passa nos anos 1980, no final da Guerra Fria.
Desde o início, a série sempre prometeu mais do que entregou. Às vezes os eventos eram por demais inverossímeis, às vezes faltava algum desenvolvimento para os personagens, o certo é que a série foi ganhando densidade com os anos e atingiu qualidade que acredito era pretendida desde a primeira temporada. Chegaram ao ápice algumas das situações que vinham se desenvolvendo, o que fez com que eu incluísse esta produção dentre as melhores do ano.
7. Rectify – Essa é daquelas séries com personagens bem construídos, com pouca ação, mas com muita sensibilidade. A séria gira em torno de Daniel Holden (Aden Young), um homem que passou 20 anos no corredor da morte por ter sido condenado pelo estupro e morte de sua namorada. Um exame de DNA acaba o devolvendo para a sociedade e é a partir daí que a série se desenvolve.
Impossível não pensarmos em Kafka e na situação de viver em um mundo como um diferente, não adaptável ao modo de vida dos demais. O desconforto com a vida, com o que se faz dela, é presente durante todas as temporadas. Em 2016 foi apresentada a quarta e última temporada. A série é fenomenal, mas considerei a última temporada excessivamente triste, sofrida. Não que a vida não possa ser assim. Um evento como esse pode transtornar não apenas o preso, mas toda a sua família, tal como é retratado no decorrer dos episódios. Mas essa última temporada quase não deixou espaço para esperança, tornando até um pouco improvável a dramatização, retirando da séria parte de sua aprovação.
Ainda assim, em face da qualidade do roteiro e do desempenho dos atores, penso que essa série ainda merece figurar dentre as melhores do ano.
6. Game Of Thrones – Como todos sabem, essa série trata de um mundo fictício, místico, povoado por seres do gelo, dragões, homens de muitas faces, lobos e gigantes. Os Targaryen foram destronados pela casa de Baratheon. Sua descendente tenta voltar ao poder. Os Baratheon foram sucedidos, de forma não amistosa, pelos ricos Lennister, que quase podem ser considerados os vilões da história (apesar de ser difícil separar com nitidez na série os bons dos maus). Os Starks são a família do norte que eram leais aos Baratheon, mas que foram tragados pela guerra do Reino.
Na verdade, Game Of Thrones não é facilmente descrita. A série é uma fantasia, cenário para apresentação das mais humanas características, como inveja, ambição, luxúria, ódio, dissimulação e um pouco de lealdade. Há cenas patéticas, algumas com atores de desempenho sofrível. Mas essas falhas são compensadas por um arco narrativo que sabe onde pretende chegar, por alguns grandes personagens e pela imprevisibilidade com que alguns deles são mortos. A série está se encaminhando para o seu final, mas é possível que seu ápice já tenha sido atingido.
Para ser sincero, não entendo muito bem as razões de a série ter se tornado um fenômeno. Se eu fosse um executivo da área de mídia, provavelmente descartaria esta produção já na sinopse. Sua existência e sobrevivência nunca vão deixar de me surpreender. O certo é que GOT ganhou qualidade com o tempo, seus personagens amadureceram e alguns atores se descobriram em seus personagens. A história envolveu, o dinheiro para a produção aumentou com a audiência, e agora GOT atingiu o seu ápice: entrou na minha lista de melhores séries do ano. O que há depois disso?
5. Westword – Trata-se de mais uma produção surpreendente da HBO. Seria um Western? Uma ficção? Um drama? É um pouco de tudo isso. Nem todos os personagens funcionam muito bem, mas aqui o que importa aqui é a história. O tema homem-máquina costuma levantar perguntas filosóficas sobre o que nos torna humanos e sobre nossas eternas pulsões.
Além dessas reflexões, o ritmo vai se intensificando com o desenrolar dos episódios e alguns grandes momentos são produzidos pelo caminho. Sim, há reviravoltas e surpresas que vão se revelando com o tempo. A história não é contada de forma linear e isso não é deixado claro de início. Parte do que torna o roteiro interessante vem daí.
A atriz norueguesa Sidse Babett Knudsen (Borgen) faz interessante participação. A série ainda conta com ótimas interpretações de Evan Rachel Wood e Jeffrey Wright. O episódio final tem como bônus a execução de Exit Music, do Radiohead, em momento crucial, em um ótimo desfecho. Não será fácil escrever uma segunda temporada.
4. Golliath – Essa série de David E. Kelley (Ally McBeal) é uma das boas surpresas do ano. Atualmente raras são as séries de advogados que não submergem na superficialidade. Com excelente roteiro e atores de primeira linha, a série mantém o interesse do primeiro ao último episódio.
Billy Bob Thorton é um advogado alcoólatra que caiu em desgraça. Um caso que lhe é oferecido pode ser sua redenção. Apesar de ser uma série dramática, há pitadas de humor espalhadas pelos episódios, além de excelentes diálogos.
É uma série Amazon, o que torna mais difícil a tarefa de assistí-la. Mas vale a pena o esforço.
3. The Night Of – Outra série da HBO com transmissão simultânea em todo mundo que conquistou os críticos pela qualidade do roteiro, da direção e do desempenho dos atores. O primeiro capítulo introduz a história de forma exemplar e já está sendo considerado um marco da TV.
Aparentemente, não passa de uma série de crime como tantas outras. Um jovem tem um rápido relacionamento com uma garota que aparece morta. A forma como essas circunstâncias são apresentadas, o lento porém tenso desenvolvimento, o realismo das situações e o excepcional desempenho do detetive interpretado por Bill Camp e do advogado de John Turturro valem o ingresso. Infelizmente, os últimos episódios são um pouco menos interessantes do que os primeiros, o que não tiram o brilho da produção.
2. The Crown – Série mais cara da história do Netflix, o tema é o período da coroação da Rainha Elizabeth. A série demora um pouco para engrenar, mas tem alguns episódios antológicos, como o que trata do fog londrino e o que contém o diálogo entre Winston Churchill e seu retratista. Aliás, John Littgow, com o seu Churchill, rouba a cena de todas as formas possíveis. Sob muitos aspectos é uma série conservadora, com história em linha reta e personagens bem construídos. Mas é esse o aspecto que se destaca positivamente nesta produção, sobre como fazer o convencional, com boas falas e ótima produção, como isso nunca deixará de despertar nosso interesse.
1. The Young Pope – Série da HBO que ainda não estreou no Brasil sobre um fictício Papa jovem, interpretado de forma magnífica por Jude Law. Não é uma comédia, mas a série é cheia de humor. Jude Law não se destaca sozinho. O elenco é todo magnífico, representando personagens humanos, imperfeitos, sediciosos, ambiciosos, vaidosos, muitas vezes patéticos e inseguros. É Shakespeare puro, sendo o Vaticano o pano de fundo.
O trabalho do diretor Paolo Sorrentino é fenomenal e não há aspecto na série a ser questionado: fotografia, escolha do elenco, cenário, caracterização e trilha sonora. O inusitado das situações é sempre explorado de forma a transformar situações cotidianas e banais em cenas engraçadas e humanas. O Cardeal Voiello (Silvio Orlando), com sua ambição e maquinagens políticas, sua devoção pelo Napoli e por Maradona, quase rouba algumas cenas, algo difícil diante da oceânica personalidade do jovem Papa. A série ainda conta com atores bem conhecidos, como Diane Keaton e Cécile De France, todos muito bem. É um programa que recomendo, assim que acessível a todos.
Caro GT,
Realmente, com tantas séries boas, seu problema de saúde acabou por trazer algum benefício.
Como eu também acompanho várias delas, vou deixar algumas impressões :
1) The Crown – acompanho o relator…deve ser cara, pois é espetacular nos detalhes. Claire Foy está ótima, mas Jon Lithgow rouba a cena quando aparece, até porque o próprio Churchill ofuscava completamente Lili Beth, como a série demonstra. A mistura de passagens históricas com os dramas familiares está bem equilibrada ao meu ver.
2) GOT – fico triste por serem apenas 10 episódios. São muitos personagens, muitas tramas e locais pra apenas 10. Fica atropelada, simplesmente não dá tempo de passar tudo pro espectador, de envolver a audiência no grau ideal. Mas segue ótima.
3) West world – JJ Abrams, pra mim, tem o toque de Sadim ( Midas ao contrário ). É evidente o cheiro de Lost pelos episódios : um mistério (o tal labirinto), personagens indefinidos ( Hopkins e Ed Harris), flash backs contando a história de cada um, diversos grupos de interesse ( androides , turistas, staff, desenvolvimento, manutenção, assim como Lost tinha 2 grupos diferentes do avião, mais o pessoal do projeto Dharma, mais o Jacob e o fumaça preta, etc). Começa prometendo muito, mas desanda ao misturar muita coisa, esoterismo com pseudociencia, muitas tramas paralelas, a história se perde, e não vai conseguir fechar. Ele nitidamente enrola com dramas pessoais pra não ter que explicar os mistérios que vai criando. Pra quem viu Lost, é” Deja vu” total. JJ Abrams se acha um Chris Carter ( x files), mas Tadinho, não chega aos pés kkkk. Fringe foi muito ruim, nem o falecido Spock salvava. E o que ele vem fazendo com a franquia Star Trek é deprimente, transformou uma série cult de ficção científica em filmes de ação e explosão, nada mais. Zero ficção científica. O negócio é dar porrada em ET e explodir a Enterprise. Enfim, pros desavisados, West world vai amarrar a audiência por um tempo, mas depois vão perceber que nada ali vai chegar a algum lugar, a uma conclusão, e não vai ter fecho.
E eu poria facilmente entre as melhores: Vikings, a qual vc injustamente nem menciona, e The Man in the High Castle, discordando um pouco de vc , a qual faz uma ótima reconstrução de historia distopica, e cria um clima tenso , noir, viciante. A vigilância constante, um mundo sombrio, a tensão política entre alemães e japoneses, e entre os próprios alemães, mais os dramas pessoais por vezes em conflito com a ideologia a ser seguida, dão um tom raro de se encontrar.
Mas é isso aí, o importante é que tem muita coisa boa a ser vista! Abraço, e boa diversão enquanto se recupera da lesão.