Em Nome de Quem?

Dizia Roham que “os reis governam os países, e os interesses governam os reis”. Deveria, no entanto, ser natural que o interesse do Presidente da República fosse o desenvolvimento de seu país, assim como o interesse dos sindicatos dos petroleiros fosse a defesa de seus filiados e de sua empresa.

Temer, em plena greve de caminhoneiros (locaute?), que secou os postos de combustíveis do país, resolveu entregar carros (Temer foi à Porto Real-RJ para entregar de veículos aos conselhos tutelares) sem cogitar que essa atividade vincularia os carros à falta de combustíveis para abastecê-los. Na semana seguinte, com a crise ainda em andamento, pegou o avião presidencial – quando estávamos todos sem combustível – para reunir-se em São Paulo com seu advogado, preocupado que estava com o inquérito dos portos, que pode implicá-lo em uma rede de favorecimentos e propinas.

Os sindicatos dos petroleiros viram Severino Cavalcanti exigir diretoria que “fura poço e sai petróleo”, viram Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Renato Duque atuarem em favor de partidos políticos, observaram Eduardo Cunha mandando na Petrobras, testemunharam as denúncias de enriquecimento de seus gerentes, viram o valor de mercado da empresa despencar ao mesmo tempo em que a dívida bruta de empresa só crescia. A empresa que faz parte do imaginário popular – o petróleo é nosso – estava ruindo e parecia ser necessário um iminente socorro de nosso combalido Tesouro Nacional.

Não se viu movimento dos sindicatos dos petroleiros. Aliados à CUT e ao PT, chegaram até mesmo condenar a Lava Jato por supostamente estar a serviço de interesses estrangeiros. Nos tempos em que a empresa era espoliada, não houve movimentos fortes em sua defesa.

Analisando o balanço da companhia, percebe-se que o valor de mercado da Petrobras se recuperou entre 2016 e 2018: saiu de R$ 125 bi para R$ 293 bi. O endividamento bruto caiu de R$ 450 bi para R$ 340 bi. A geração de caixa (ebitda) dividida pela dívida bruta foi de 0,055 para 0,247, ou seja, multiplicou quase cinco vezes, revelando grande aumento da capacidade da empresa em pagar suas dívidas (e sobreviver).

O aumento do preço internacional dos combustíveis, num cenário em que se pratica preços de mercado, valoriza a empresa e, consequentemente, seus funcionários. Logo, é no mínimo controversa a convocação de uma greve promovida pelo sindicato dos petroleiros contra tal política de preços. Evidentemente a greve fracassou, mas não deixa de ser notável que um movimento desses seja convocado contra uma política que, em última instância, favorece o trabalhador do setor. Percebe-se claramente, neste episódio, a confusão entre as filiações partidárias das lideranças sindicais e os interesses dos trabalhadores que essas lideranças representam. Os interesses partidários acabaram se sobrepondo.

O Presidente Temer, dividido entre sua falta de autoridade e as preocupações com o avanço da Polícia Federal sobre seus familiares, revelando estatura inferior ao tamanho da crise, acabou por causar um rombo bilionário no orçamento de serviços essenciais à população, criando condições para que a Petrobras regrida ao tempo dos preços administrados.

Evidente que não sou finalístico nem teleológico, não acho que o interesse coletivo deva ser colocado sempre em segundo plano frente aos interesses setoriais. Tampouco creio que o mundo deva ser guiado exclusivamente por interesses. Neste cenário, no entanto, se cada ator desses estivesse mais atento aos papeis que cabem a eles representar, a crise não teria atingido essas proporções. O fim do Governo está dado. Resta saber se Temer pretende renunciar ou se a necessidade do foro privilegiado o manterá agarrado ao cargo. Essa crise nos deu indícios sobre quais interesses prevalecerão.

Gustavo Theodoro

 

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