Mês: janeiro 2020

O “OSCAR” sem Proteína

A cerimônia do Globo de Ouro de hoje à noite não servirá carne no jantar para os convidados. A refeição vegana atende aos imperativos dos progressistas da sociedade americana contemporânea. Em meio a reclamações acerca da indicação de Rick Gervais para apresentar o prêmio, a ausência de proteína no cardápio parece uma concessão ao politicamente correto.

Rick Gervais é acusado de não ser sensível às pautas identitárias. Além disso, o humorista já fez piadas com o alcoolismo de Mel Gibson e com os filhos adotivos de Angelina Jolie. Chegou a fazer humor ligando Roman Polanski ao temas de pedofilia. Pelos critérios atuais da cena política do Partido Democrata americano, o mínimo que se exigiria seria o banimento de Rick Gervais.

Gradualmente, os meios de comunicação estão descobrindo que os temas identitários, apesar de dominantes nos ambientes culturais progressistas, não interessa à maioria da população. Como a escolha do apresentador do Globo de Ouro coube à NBC, dona dos direitos de transmissão da cerimônia, foi contratado aquele que, segundo avaliação dos executivos, seria aprovado pela audiência.

São muito estreitos os caminhos que podem ser percorridos pelos antenados com as causas identitárias. Charlize Theron protagoniza o filme “O Escândalo”, que trata de uma história real envolvendo um executivo da odiada Fox News, Reger Ailes. Ele foi afastado da empresa após denúncias das principais âncoras da emissora, dentre as quais Megyn Kelly. Em princípio, seria um filme bem aceito pela costa oeste americana.

Megyn Kelly, no entanto, personagem de Charlize Theron, apesar de apresentada como vítima no contexto do #MeToo, deveria ser retratada de com cuidado. Afinal, era alguém que considerava um absurdo retratar o Papai Noel como negro, assim como não via problemas em quem pintava o rosto de preto para se fantasiar para o Halloween. Para que fosse viabilizado o projeto, foi necessário deixar claro que a vítima também era controversa.

Nem todos os problemas podem ser resolvidos resolvidos pela simples vontade das pessoas. A jornalista brasileira Ana Maria Bahiana é uma das eleitoras do Globo de Ouro. Ela lamenta que todas as produções que concorrem a melhor filme, dez no total, sejam dirigidas por homens brancos. Ela confessa ter votado em “um monte de filmes de mulheres”, mas ainda assim só homens foram indicados, mesmo o prêmio tendo a maioria dos votantes mulheres.

Na visão de mundo dessas pessoas, “homem branco” é quase um xingamento, ainda mais quando reunidos em grupo.

Enquanto isso Tarantino não podia dar uma entrevista sobre “Era uma vez em… Hollywood” sem que lhe perguntassem a razão de seus protagonistas serem masculinos. Chegaram a contar o número de palavras pronunciadas por Margot Robbie para comprovar a misoginia do diretor. “Para que contratar uma atriz como ela e não lhe dar falas?”. São estreitos os caminhos a percorrer para quem pretende estar em sintonia com os progressistas americanos.

Para completar o cenário, é de se esperar que os premiados façam piadas “inteligentes” sobre Trump. Enquanto o presidente americano segue se comunicando diretamente com o subempregado dos estados do norte – que, ao final, tendem a decidir as eleições novamente – a preocupação da maioria dos presentes à cerimônia de hoje é representar o papel que seu grupo minoritário espera. Ainda que, para isso, seja necessário se alimentar apenas de legumes cozidos. Pelo menos a bebida alcoólica não tem proteína e está liberada na premiação, o que nos faz esperar uma festa divertida, apesar de tudo.

Gustavo Theodoro