Perder é Ganhar

A Itália luta para controlar o déficit público. Foi possível limitá-lo em 2,4% para o ano que vem. Aqui vemos os candidatos brigando muito para ser presidente. Tenho dúvidas das razões. Será que eles sabem o que os esperam?

Lembro que o PT, ao receber o Governo de FHC, disse ter recebido uma “herança maldita”. Mas vejam, o superávit primário em 2002 ficou em 4,4% do PIB. Superávit, repito. O custo da previdência estava em torno de 5% do PIB. Hoje a situação é muito pior.

O déficit primário está em 1,9% do PIB. O déficit nominal projetado para 2019 está em quase 7% (a Itália foi admoestada pela União Europeia por seu déficit de 2,4%). Nossa dívida pública pode chegar a 100% do PIB em dois anos. O bônus demográfico está no fim. O gasto previdenciário deve chegar a 8,5%.

Haddad prometeu isenção do IRPF para os que ganham até cinco salários mínimos. São mais 70 bilhões, para se somar ao déficit de R$ 170 bilhões. Paulo Guedes disse que vai arrecadar R$ 1 trilhão vendendo estatais. Zaina Latif designou esse número como o maior “terreno na lua” dessas eleições. O posto ipiranga não tem ideia de como funciona a máquina pública.

O clima das eleições está acirrado. E o próximo governante terá que fazer um rigoroso ajuste. O Ciro mentiu para vocês: não gastamos 50% com juros, mas 4,4% líquido. Não é esse nosso calcanhar de Aquiles.

Se o presidente eleito não fizer o ajuste, terá que seguir por algum caminho heterodoxo, seja pelo caminho do keynesianismo brasileiro (aumenta o gasto público a qualquer preço que o crescimento futuro nos devolverá recursos), seja pela inflação, seja pelo calote nos detentores de títulos públicos (aplicadores em tesouro direito e fundo DI), seja pela maquiagem das contas públicas (como as pedaladas fiscais), ou, não duvido, pela criação de um imposto exótico (o imposto sobre o spread é um ótimo exemplo disso).

Conclusão. Se 2014 já era uma boa eleição para se perder, a de 2018 a derrota deveria ser perseguida com afinco por todos. Acho muito difícil que o próximo governo não fracasse. Vamos torcer para nossa democracia resistir a isso. E dar uma boa conferida no nome dos candidatos a vice-presidente.

Gustavo Theodoro

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