antissionismo

Jean Améry

Só tomei conhecimento da existência de Jean Améry neste ano. Não sei como ele me passou despercebido por tanto tempo. Austríaco, Belga e Judeu, mas sem se reconhecer em nenhuma dessas denominações, sobrevivente das torturas da Gestapo e da SS e dos piores campos Nazistas, ele escreveu uns textos bem desesperançados nas décadas seguintes.

Dizem que a filosofia mais quente de Heidegger tem lugar quando ele se afasta de suas definições mais famosas para tratar do tédio e da angústia. Améry trata de ressentimento, sentimento tão mal afamado a partir de Nietzsche, discute seu lugar no mundo e tenta refletir sobre a possibilidade de continuar vivendo e convivendo depois de suas experiências nos campos de morte.

É possível perdoar aqueles que conviveram bem com suas perdas? O que fazer com as frases que ele testemunhou: “se os judeus estão sendo presos, devem ter feito alguma coisa para isso”. As pessoas são as mesmas. Apenas decidiram “superar”. Mas e se tudo acontecesse de novo, essas pessoas não repetiriam seu comportamento?

Améry acabou se matando. Homem de esquerda, ele era um inconformado com os rumos que ela vinha tomando, acusando a todos de fascismo e dando nova roupagem ao antissemitismo, que passara a ter o nome de antissionismo. Foi um profeta.

Gustavo Theodoro