Educação e Política

A época eleitoral é propícia para a discussão de temas essenciais para o futuro do Brasil. No entanto, como a política e a verdade quase nunca se tocam, torna-se essencial comprovar informações usualmente disseminadas pelas máquinas de propaganda dos candidatos.

Raramente o tema educação comporta soluções simples. E quase nunca um país faz uma revolução na área sem envolver toda a sociedade. Por isso, tendo a ver com ceticismo os dados e métodos elencados pelos três principais candidatos à Presidência da República. Esse meu ceticismo, fruto que sou da escola da dúvida de Descartes, me levou a buscar informações que pudessem nos fazer enxergar por trás do véu de cores e sons criados pelos publicitários que atuam nas campanhas e nos Governos nos tempos atuais.

Na área federal, todos os programas ligados à educação ganharam um nome que pudesse ser, posteriormente, utilizado como ferramenta de marketing. O antigo crédito educativo, neste governo, responde pelo nome de FIES, que seria o financiamento aos estudantes de ensino superior. O Prouni aloca estudantes de baixa renda em universidades privadas. O ENEM é a prova que visa a propiciar mais oportunidades aos concorrentes às universidades públicas e privadas. O SISU é o concurso que nacionalizou a escolha de vagas. Cotas raciais e sociais foram instituídas com o intuito de reduzir a distância entre brancos, pardos e negros, já constatada pelo IBGE. Novas universidades públicas e gratuitas foram criadas pelo país. Há ainda o Pronatec, criado para prover ensino técnico ao trabalhador e que tem sido divulgado como a principal programa do Governo Dilma (ao lado do Mais Médicos).

Em Minas Gerais, o choque de gestão mineiro também atingiu a área de educação. Foram criados indicadores, tal como ocorreu na área de segurança, e foi introduzida a remuneração variável. Agora já sabemos que este tipo de abordagem não gerou resultados positivos no mundo, o que por si só já coloca sob desconfiança a informação divulgada pela campanha do candidato Aécio Neves de que Minas Gerais tem a melhor educação do país graças a seu governo.

O Governador Eduardo Campos também introduziu a remuneração variável em Pernambuco, segundo metas previamente estabelecidas. Interessante constatar mais esse ponto de interseção entre os candidatos Eduardo Campos e Aécio Neves, já que são também bastante afinadas suas propostas para a economia. Mas Eduardo Campos tem apresentado como novidade de seu Governo a introdução do ensino integral. Este sim costuma apresentar bons resultados onde aplicado. Vamos constatar que resultados foram obtidos por lá.

Além das questões acima, há pouquíssima discussão sobre alguns temas que parecem centrais na solução do problema da educação do Brasil, como a atratividade da profissão, o tipo de formação de professores, a ausência de profissionais da área de exatas atuando no magistério, a extensa grade curricular, dentre outros.

Pode parecer incrível, mas os candidatos à Presidência parecem supor que educação se resolve com programas com nomes esquisitos e com meras ferramentas de gestão, ferramentas essas já descartadas nas melhores organizações do mundo. Além disso, nas discussões de economia, em que geralmente o foco está no câmbio, nos juros e na taxa de investimento, raramente é feita menção à importância do desenvolvimento das pessoas como instrumento de alavancagem do crescimento econômico. Com isso, alternam-se governos com diferentes visões sobre o tamanho e a abrangência do estado, mas as taxas de crescimento brasileiro não retornam ao patamar observado até os anos 1980s.

A história nos informa que países totalmente destruídos, como a Europa do pós-guerra, podem retomar seu grau de desenvolvimento com razoável rapidez graças ao nível educacional de seu povo. No Brasil, continuamos tendo o povo mais feliz do mundo, mas somos primeiro lugar em cirurgias plásticas – desbancando os EUA, que têm população e renda maiores -, estamos também nos primeiros lugares nos rankings de corrupção, consumo de substâncias ilícitas, violência no trânsito, assassinatos e tráfico de pessoas. É irresistível concluir que parte de nossos piores indicadores – dos quais sempre me lembro, provavelmente devido a meu complexo de vira-latas – têm alguma relação com o baixo nível educacional de nossa população.

Assim, visando a contribuir com o debate, vamos trazer, nos próximos posts, algumas informações que podem nos auxiliar, primeiro, a comprovar que nosso nível educacional é realmente baixo e, segundo, averiguar o quanto a solução proposta pelos nossos candidatos pode nos tirar dessa situação.

Gustavo Theodoro

 

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