A indústria cultural sofreu profundas transformações nas últimas décadas. O livro ainda é um elemento estabilizador da cultura, mas hoje ele compete de forma mais acirrada com os vídeos, a música, a notícia como entretenimento, as redes sociais e outras formas de lazer. No entanto, nós que continuamos apegados a essa velha prática sabemos que nada substitui um livro, pois só ele é capaz de organizar um vasto campo do saber ou contar uma história com nuances e ângulos diversos. Além disso, a leitura deixa algo a ser preenchido pelo próprio leitor, pois as imagens são formadas em nosso cérebro e não nas diversas formas de exibição de vídeo.
Elaborar lista de livros do ano é um tanto mais difícil, pois em geral lemos diversos livros de anos anteriores, ou mesmo clássicos, e é raro quem leia mais de cinquenta livros por ano. Assim, elaborei uma pequena lista daqueles que considero os destaques do ano.
4. A Balada de Adam Henry, de Ian McEwan, é um livro curto daquele que considero o melhor autor dos anos 2000. Neste livro, o tema é o mundo do Direito. A trama envolve um menor de idade – o Adam Henry – pertencente a uma religião que proíbe a transfusão de sangue. Por ser menor, a questão é levada aos tribunais. A juíza responsável pelo caso terá que lidar com as questões de sua vida particular enquanto tem a responsabilidade de decidir a lide com rapidez. Não é o melhor livro do autor, mas nele estão presentes muitas de suas qualidades.
3. O Homem Que Amava os Cachorros, de Leonardo Padura, consta que é de 2013, mas só tomei conhecimento dele em 2014, por isso resolvi incluí-lo na lista. Na verdade, o livro foi lançado em Cuba há cerca de cinco anos, mas levou um tempo para ser descoberto por nossas editoras. O autor é cubano que mora em Cuba e gosta de lá. Com inteligência e sabedoria, soube se projetar mesmo residindo em um país onde há restrições à liberdade de expressão. O autor se firmou como escritor de livros policiais, todos eles muito bem avaliados pela crítica. Esse último livro de Padura tratou da bem conhecida história do assassinato de Trotsky a mando de Stálin. O livro é excelente. Pode ser lido como um romance policial. É um dos meus livros do ano.
2. Os Limites do Possível, de André Lara Resende, é uma coletânea de artigos publicados pelo brilhante economista. A economia é uma ciência que se equilibra entre as ciências duras e as ciências sociais. Como é impossível isolar a ciência econômica do mundo político que o cerca, a economia está constantemente cercada de controvérsias que só se acirram em períodos de mudanças políticas. O autor deste livro consegue lidar com toda a complexidade da economia sem deixar de enxergar esse lado que envolve o julgamento axiológico de cada um. Alguns textos são mais profundos e voltados para aqueles com formação na área, mas a maior parte do livro é acessível aos leigos no assunto. Imperdível.
1. O Capital no Século XXI, de Thomas Pikkety, é, sem dúvida, o livro do ano. Não vou escrever muito sobre ele, pois já dediquei ao livro quatro artigos. Tenho muitas divergências com o autor, mas reconheço a grandeza da empreitada e o resultado é impressionante. Todos os que se interessam por política, economia ou justiça social deveriam gastar algum tempo percorrendo as análises do economista marxista. Mesmo eu, que sou mais próximo do liberalismo econômico, li e recomendo.
Gustavo Theodoro