Banco Central

Independência do Banco Central

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O programa de governo de Marina Silva propõe instituir, por meio de lei, a independência o Banco Central. Como todos sabem, independência do banco central não passa de uma medida que busca assegurar ao sistema financeiro que o BC tomará as medidas necessárias ao controle da inflação. A promessa faz sentido neste momento, já que a interferência do Governo Federal no Banco Central foi uma das principais causas que nos levaram a tão baixo crescimento, a certo descontrole inflacionário e ao retorno dos juros a antigos patamares. Dilma irá entregar a seu sucessor taxas de juros superiores às recebidas do Presidente Lula.

Em 2012, o descontrole fiscal começou a afetar a inflação. Havia, no entanto, a percepção de que os juros no país eram artificialmente altos. Diante da necessidade de poupar recursos para fazer frente aos gastos contratados, a redução dos juros pareceu boa alternativa, uma vez que países com juros mais baixos são, normalmente, mais desenvolvidos. Os agentes financeiros, que decidem o destino dos bilhões de dólares ávidos por um bom lugar para investir, já desconfiavam dos números fiscais do governo. E desconfiavam da autoridade do Banco Central para fazer o que fosse preciso para conter a inflação. Em 2012, Dilma fez a seguinte declaração: Não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a redução do crescimento econômico. É uma frase tão equivocada que fez o mercado financeiro balançar.

O equívoco não está apenas no atentado à nossa bela língua. O mercado interpretou que Dilma seria mais leniente no combate à inflação, pois, segundo ela, combater a inflação inibe o crescimento. Trata-se de imensa confusão de conceitos que nos faz temer pelos próximos quatro anos.

Apesar de o governo ter publicado notas depois deste episódio negando que a Presidente iria interferir na política de juros do BC, os juros seguiram baixos e a inflação seguiu se aproximando do topo da meta. Os agentes financeiros davam por certo que era Dilma quem tinha o controle do BC e passaram a exigir juros maiores para garantir o ingresso de recursos no país, que passou a ser necessário tanto por conta do déficit na balança comercial como para apreciar o câmbio, reduzindo a pressão inflacionária.

Fosse o Banco Central independente em 2012, não estaríamos hoje no atual patamar de juros e poderíamos estar economizando algumas dezenas de bilhões de reais com o pagamento das taxas de rolagem da dívida. Ao desafiar o mercado, nós é que pagamos a conta.

A recente campanha eleitoral da candidata petista também não auxilia seu eventual futuro governo. A campanha de Dilma, como todos sabem, é milionária. A campanha de Dilma arrecadou, até o momento, quase R$ 130 milhões, enquanto a de Marina ainda não atingiu os R$ 30 milhões. Dilma tem tempo de televisão quase dez vezes superior ao de Marina. Na última semana, Dilma falou mais de Marina do que a própria Marina, com seus 1min29seg. Ou seja, Dilma tem mais tempo para denegrir Marina do que tem Marina de falar sobre seu programa de governo.

Pois bem. Semana passada Dilma gravou um filmete sobre o futuro que os brasileiros devem esperar com Marina presidente. No filme, a comida desaparece dos pratos dos pobres, dando a entender que os recursos seriam repassados a banqueiros inescrupulosos. É preciso reconhecer que o PT sabe ganhar eleições. Resta saber se haverá cooperação dos agentes econômicos para governar.

E mais: ao retratar o sistema financeiro como um bando de avarentos oportunistas, a campanha petista acaba por reforçar a imagem de avesso aos mercados. Inevitavelmente isso terá um custo na condução da política econômica em eventual governo petista. Quando me refiro a custo, não estou falando em custo político ou emocional. O custo é financeiro mesmo. Como nossa dívida bruta está na casa dos 70% do PIB, o custo de sua rolagem é a maior conta do país. Cada ponto da Selic representa um custo adicional de cerca de R$ 6 bilhões ao ano. Isso equivale a seis Prouni.

Ao manter o discurso belicoso, mesmo que se trate apenas de discurso, contra o sistema financeiro e os agentes econômicos, é possível que Dilma vença as eleições. Isto porque anos de governo de esquerda reforçaram o preconceito do eleitor contra o mercado financeiro, contra os empresários e contra tudo aquilo que represente alguma forma de riqueza. No entanto, a vitória das eleições por meio deste caminho acirra as desconfianças não só do hot money (do qual o país continua dependendo), mas dos responsáveis pelo investimento direto.

Sem investimento direto, torna-se ainda mais necessário o capital especulativo. E ele só virá se os juros compensarem o risco. Logo, as bravatas disparadas contra o mercado financeiro, ao invés de proteger os pobres dos ricos, faz justamente o contrário: aumenta a sangria de recursos de nossos já combalidos cofres públicos em direção aos donos do capital.

Neste sentido, foi importante para sua governabilidade Marina declarar ser favorável à independência do BC. Uma medida como essa dificilmente passará pelo Congresso. Mas essa sinalização tornará mais simples para o novo governo tirar o país da situação em que vivemos atualmente, com descontrole fiscal (disfarçado e maquiado), inflação do topo da meta, primeiros sinais de aumento do desemprego, desindustrialização e, principalmente, crescimento econômico medíocre (gosto de lembrar que há 100 anos não crescemos tão pouco como no Governo Dilma). Não vai ser fácil recolocar o País no rumo certo. Mas sinalizações corretas durante a campanha podem acelerar a recuperação de nossa economia.

Gustavo Theodoro