Após a queda do muro de Berlim ficou claro que o sistema que permite e incentiva a propriedade privada dos meios de produção (capitalismo) venceu o sistema que defendia seu controle coletivo e a economia planejada (socialismo e comunismo).
Como ainda temos a tendência de nos diferenciar por nossas opiniões, a velha dicotomia entre direita e esquerda, ou entre conservadores e moderados, não foi vencida. Nota-se, no entanto, que as velhas críticas de origem marxista foram superadas, mas uma nova crítica, herdada em parte do marxismo, mas relacionada a outros aspectos da vida humana ganharam corpo.
A crítica feita pela escola de Frankfurt ainda era considerada de esquerda, mas pontos essenciais da herança da velha esquerda foram abandonados.
A alienação continuou sendo combatida, sendo identificada como característica do capitalismo. Antes, Marx atribuía a alienação à falta de espírito científico do pequeno burguês, interessado que estava nas pequenas misérias da vida. Tinha ainda como causa o apego demasiado à religião, considerado o ópio do povo, lugar de florescimento de ilusões e fonte da resignação da sociedade.
A pensadores da escola de Frankfurt dirigiram suas críticas à sociedade de consumo, tida por eles como produto do capitalismo, que transforma pessoas de cidadãos em meros consumidores. O produto desse modelo seria uma sociedade extremamente individualista, pouco voltada ao estudo e ao pensamento, com poucos dos virtuosos valores celebrados pelos antigos conservadores como Burke, que prezavam a honra, o respeito, a bondade e a coragem.
Com a atomização da sociedade, com a emergência da sociedade de consumo, o vínculo entre as pessoas, a ligação das pessoas com suas comunidades, se desfez.
É evidente que boa parte da descrição da realidade está, indubitavelmente, correta. A questão é saber a alienação é, em si, um problema a ser combatido e se ainda faz sentido atribuir todas as mazelas da sociedade moderna ao capitalismo.
É útil notarmos que o sistema que defende a livre circulação de mercadorias e a propriedade privada nem sempre teve imagem tão ruim no mundo das ideias. Nos séculos XVI e XVII, o mercantilismo e a liberdade de comércio tinham boa posição na imprensa e nos livros escritos na época, eram muito bem avaliados e considerados símbolo do progresso e da civilização. Foi a crítica iniciada por Marx que tornou a palavra capitalismo sinônimo de ganância, de alienação e de ideias de valoração negativa.
O interessante desta nova rodada de críticas ao capitalismo é notar a desconfiança que os membros da Escola de Frankfurt têm do humano. Maquiavel, em sua obra-prima, imaginou um mundo onde o Príncipe poderia manipular todos, tal qual material plástico, para permanecer no poder. Era o império dos fins sobre os meios, que abre amplo debate sobre a moralidade.
Mas o ponto aqui é sua crença na capacidade do Príncipe de domar a opinião de seus súditos e adversários. Os membros da Escola de Frankfurt exibiam o mesmo preconceito com o ser humano, tomando-o por mera massa de manobra, não mais na mão do Príncipe, agora sob o jugo de uma sociedade que o transforma em um mero consumidor de coisas.
Será que se justificam as dúvidas que pairam sobre nossa espécie? Será que o Príncipe pode controlar seus súditos assim como o capitalismo pode transformar cidadãos em meros consumidores? Voltarei ao tema em breve.
Gustavo Theodoro