Há alguns enigmas envolvendo a questão do desemprego no Brasil muito pouco discutidos na imprensa nacional. É certo que as taxas de desemprego, especialmente a oficial, indicam que vivemos sob pleno emprego (5%). Este número surpreende especialmente diante do baixo crescimento da economia verificado nos últimos três anos.
Ainda que se considere a pesquisa ampliada do IBGE, o número de desempregados não supera os 8%. Como um país que não cresce pode produzir dados positivos quanto ao emprego? Talvez não seja possível formular uma resposta livre de quaisquer dúvidas. Mas a análise de outros indicadores pode nos dar alguma luz sobre este aparente enigma.
Um dado bastante intrigante é a taxa de desocupação da população brasileira. Se contarmos a população em idade ativa que não procura trabalho e a somarmos à população de desempregados, verificamos que quase metade da população brasileira em idade ativa não trabalha. O número é estranhamente superior ao verificado em outros países, sem que seja possível atribuir essa discrepância a aspectos culturais.
Outro dado que chama a atenção é a taxa de pessoas que trocam de emprego. Cerca de 40% dos brasileiros trocam de emprego todo ano. A taxa é muito superior aos demais países do mundo. O próprio governo tem se mostrado incomodado com essa rotatividade. No governo, há quem pense que tudo isso se relaciona ao recebimento do seguro-desemprego.
De 2007 a 2013 houve crescimento explosivo no requerimento de seguro-desemprego, algo em torno de 150%. O Brasil já gasta cerca de R$ 50 bilhões ao ano com esse benefício. É muito dinheiro. A primeira pergunta formulada, considerada um enigma da economia, tratava de tentar explicar como uma economia que não cresce pode produzir pleno emprego. O segundo enigma é entender por que uma economia de pleno emprego produz aumento substancial nos gastos de seguro-desemprego.
O governo suspeita que os trabalhadores estão trocando de emprego, com o apoio dos empresários, com vistas ao recebimento do seguro-desemprego. Ou seja, o empregado é demitido por uma empresa, recebe seu seguro-desemprego por cerca de 5 meses enquanto trabalha informalmente, às vezes para a mesma empresa que o demitiu. O trabalhador considera isso uma promoção, um bônus em seu salário. Para as empresas, especialmente as do ramo de serviços e de construção civil, essa estratégia, – fraudulenta, obviamente – é forma de dar aumento sem onerar custos.
Outros trabalhadores se aproveitam do seguro-desemprego, das carências e dos prazos de recebimento, para dar uma pausa no trabalho. Nesses meses, esses segurados não buscam emprego e não constam dos índices oficiais de desemprego (pois não estão procurando emprego).
Vejam que as suspeitas aqui levantadas afetam os dois maiores ativos eleitorais do Governo Dilma, quais sejam, o pleno emprego e o aumento da renda. Aguardo comentários sobre o assunto, pois pretendo retomá-lo. A pergunta que fica é: será que os melhores números produzidos pelo Governo Dilma se dissolvem sob uma análise mais meticulosa?
Gustavo Theodoro