O Custo dos Estádios

Alemanha, 2006. Seleção brasileira eliminada. Aqueles que viajaram para assistir aos jogos ouviam que a Copa tinha acabado para eles, o que os fazia retrucar: acabou nada; agora são 24 meses para pagar. Com a Copa sendo realizada no Brasil, esse é um dos sentimentos que agora afloram: o sentimento de que pagamos para que outras seleções pudessem exibir seu talento. Agora todos se vão e ficamos aqui com as contas para pagar.

É certo que nem todos os estádios foram construídos com dinheiro público. Apesar de alguns estádios terem recebido recursos dos tesouros estaduais, a maioria dos investimentos seriam feitos pela iniciativa privada. Ocorre que os recursos contabilizados como privados foram financiados, de forma subsidiada, pelo BNDES. Mas não é garantido que os governos recuperem os recursos investidos.

Como se sabe, os recursos emprestados para a construção dos estádios deverão ser pagos nos próximos 20 anos pelos consórcios vencedores das licitações abertas pelos governos. No entanto, não será fácil recuperar os recursos investidos, mesmo em praças com times de futebol de grandes torcidas, como Rio e São Paulo. Muito menos provável é que os estádios construídos em Manaus, Cuiabá e Brasília consigam auferir renda suficiente para fazer frente aos financiamentos.

Além disso, a forma como o BNDES é mencionado (não é dinheiro dado: é empréstimo, e será pago – dizem os defensores do atual Governo) faz parecer que se trata mesmo de um simples financiamento, sem qualquer custo para o Governo. Quem conhece minimamente a engenharia financeira dos empréstimos do BNDES sabe que, ainda que os financiamentos sejam pagos, há um custo para mantê-los.

Os recursos do BNDES são repassados pelo Tesouro, que os capta no mercado financeiro por meio de pagamento de juros que têm por base a taxa Selic. Os financiamentos para os estádios da Copa tiveram taxas entre 4 e 6%. Ou seja, o valor financiado produz pagamento de juros entre 5 e 7% ao ano sobre o saldo devedor, por ano. Essa conta é do Governo Federal.

Mas não é só isso. O BNDES não opera no mercado. Seus empréstimos são operacionalizados por meios dos bancos de varejo ou de investimento. Ocorre que os bancos não aceitam, dado o ambiente regulatório brasileiro, condições inferiores a 4% ao ano. Assim, quando do pagamento dos empréstimos, o BNDES só recebe o principal, quando muito acrescido de juros de 2%, pois o restante permanece com os bancos que operacionalizam os empréstimos.

Logo, no que tange aos estádios, vamos nos lembrar desta Copa por muitos anos, fazendo, de certa forma, até sentido a denominação da Copa das Copas. Pelo menos para o Brasil ela será mesmo. E isso não se deve apenas aos 7×1 que sofremos da Alemanha. Vamos pagar juros ao mercado sobre o capital investido e podemos ainda arcar com o valor principal dos estádios que não conseguirem se manter. Portanto, a Copa que acabará no domingo é a das seleções de futebol. Para o Brasil, restam ainda 20 anos para pagar.

Gustavo Theodoro

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