Ontem foi anunciado o restabelecimento das relações entre os EUA e Cuba, fato que surpreendeu a comunidade internacional. Esse primeiro passo, construído com o apoio do onipresente Papa Francisco e do Governo do Canadá, abre espaço para que, no futuro, as relações comerciais entre os países sejam retomadas.
Se isso ocorrer, o regime castrista está com os dias contados, pois é raro o analista que não relacione a resistência da ditadura cubana ao embargo americano. Os EUA são o país que o mundo adora odiar. Cuba sofre embargo americano e é herdeira do velho sonho da sociedade igualitária, recolhendo simpatias pelo mundo.
Só estranhei perceber que sites de esquerda comemoraram o restabelecimento das relações entre EUA e Cuba, enquanto meios de informação tradicionais reagiram com moderado otimismo. Estranho porque é evidente que a abertura promovida pelo regime cubano quase certamente levará o país ao capitalismo, tal como ocorreu com os países do leste europeu.
Lembro que a esquerda mundial, lá pelos idos dos anos 1980s, torcia para que os regimes comunistas europeus migrassem para a democracia sem perder suas características adquiridas após a Segunda Guerra. Ocorre que ninguém se conforma com a pobreza. Lembro a frase de Bertold Brecht, que dizia que o comunismo não é a justa distribuição da riqueza, mas da pobreza. Essa frase aplica-se perfeitamente à Cuba.
Ainda voltarei a tratar de Piketty no futuro, mas uma das conclusões de seu livro – que ele nem chegou a se dar conta – foi a de que a desigualdade pode ser alta sem que isso implique, necessariamente, injustiça. Em países muito bem sucedidos e desiguais, a origem da desigualdade está no excesso de riqueza, e não no de pobreza. Percebam a diferença que isso faz. E em Cuba a educação é boa – como era antes do regime comunista -, mas o PIB, a riqueza, é pequeno.
Se houver abertura comercial em Cuba, é muito provável que o regime não resista e que o país seja integrado ao mundo, crescendo a taxas muito altas, já que o patamar atual é muito baixo. Logo, Cuba pode deixar de ser o sonho dos socialistas contemporâneos, razão pela qual fiquei em dúvida sobre as razões do aplauso de sites, inclusive alguns declaradamente socialistas, ao acordo entre EUA e Cuba. Será que alguém poderia explicar-me?
Gustavo Theodoro