Marx previu que a crise do capitalismo levaria a sociedade à ditadura do proletariado e, a seguir, pelo socialismo, um mundo igual onde não haveria mais espaço para a política, que seria substituída pela “mera administração das coisas”.
Apesar de o prognóstico de Marx ter se mostrado equivocado, de certa forma o espaço para atuação política se reduziu. O paradoxo previsto por Tocqueville se confirmou: o fim da aristocracia, com a criação de um espaço público onde todos podem participar, criou condições também para que poucos efetivamente se envolvam nas questões públicas.
A evolução das burocracias também limitou a abrangência da política, pelo menos a da política interna. Talvez apenas nas relações internacionais a política tenha conseguido manter seu status.
Por isso é tão interessante, para quem gosta de política, observar a reaproximação entre os EUA e Cuba. Tratou-se de ato de vontade dos governantes, que tinham a seu dispor esse caminho, podendo percorrê-lo ou não. É provável que o regime cubano seja destruído com essa aproximação. Já vimos esse filme com a queda do muro de Berlim. Já foi superada a discussão sobre a possibilidade da transição para o socialismo democrático, tema tão comum aos socialistas ocidentais dos anos 1980.
O reatamento das relações, quando levar à abertura comercial, aumentará a pressão para reformas no sistema político cubano. O turismo levará estrangeiros, haverá mais acesso aos bens de consumo e à informação. A pressão da sociedade cubana aumentará. E não era necessário que nada disso ocorresse. Esse fato novo só ocorreu neste momento por decisão dos líderes políticos, que “iniciaram” um diálogo por ato de vontade, exercendo a liberdade que é característica da política.
Os gregos e romanos tinham a política em alta conta. Mas dificilmente eles relacionariam o termo “política” à eleição pela liderança do PMDB na Câmara ou às disputas envolvendo Renan Calheiros e Eduardo Cunha. Já o reatamento das relações EUA e Cuba é evidência de nossa milenar herança política.
Gustavo TheodoroO