Universo Eterno

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Hannah Arendt se recusava a reconhecer que a modernidade teria criado novos sistemas políticos. Retornando a Atenas e a Roma, poderíamos identificar todas as formas de sistemas políticos de que somos testemunhas: a tirania, o despotismo, a república, a democracia e a monarquia. Com o aparecimento do totalitarismo, Arendt foi forçada a reconhecer que estava diante de uma novidade, de algo inédito na história da humanidade.

A antiguidade nos legou um conjunto de saberes que até hoje nos influenciam. Demócrito, filósofo pré-socrático, formulou o atomismo, fundada na tese de que tudo o que conhecemos poderia ser reduzido a um pequeno constituinte, uma unidade fundamental microscópica constituinte de todas as coisas. As ciências físicas no século XX reciclaram as ideias de Demócrito, explicando o mundo por meio da teoria atômica. Atualmente, o que denominamos átomo não se confirmou como a unidade básica da matéria, sendo substituído pelos quarks e léptons.

É da antiguidade que primeiro emergiu as teorias que descreviam o mundo como algo único, imutável em sua essência, ou como algo em permanente mudança. Para Parmênides, toda mutação é ilusória. Já Heráclito era o representante da impermanência do mundo. Para ele: Tudo flui e nada permanece; tudo se afasta e nada fica parado… Você não consegue se banhar duas vezes no mesmo rio, pois outras águas e ainda outras sempre vão fluindo…É na mudança que as coisas acham repouso…

Essa discussão marcou a filosofia, reaparecendo nas obras de diversos filósofos modernos. Mas esses pensamentos não influenciaram só a filosofia. A física, que nasceu da filosofia, herdou essa discussão e a levou para análise da formação do universo.

Chegou a ser consenso na comunidade científica a tese de que nosso universo teve origem em uma grande explosão, o Big Bang, ocorrida há alguns bilhões de anos. Apesar de não implicar necessariamente um início do mundo, a teoria do Big Bang parece ser mais bem adequada a um momento de começo de tudo, parece referenciar um momento de formação de todas as coisas, um início. No entanto, não é a física que nos leva ao Big Bang, mas nossa cultura, nossa forma de pensar, nossa cultura. A física explica como o universo se expandiu após a explosão, mas não é possível explicar os primeiros momentos de existência do universo.

É dessa brecha que se aproveitam os cientistas céticos do Big Bang. O universo pode não ter tido início, mas oscilar entre expansão (a fase em que estamos no momento) e compressão (tal como ocorre nos buracos negros). Provavelmente, Parmênides teria maior simpatia por teorias como essas, sem rupturas nem inícios. Essas ideias, muito menos populares do que as do Big Bang, estão congregadas na Teoria do Universo Eterno. Mario Novello, físico brasileiro, é autor de uma dessas teorias.

Gustavo Theodoro

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