Valor Moral

Ações solidárias são valorizadas do mundo moderno. Ostentar trabalho voluntário em um currículo pode abrir portas em processos seletivos. Aparentar altruísmo pode conquistar simpatia na sociedade. Avaliar o valor moral de nossas ações tem sido uma constante preocupação de filósofos moralistas. Pode uma ação ser considerada “boa” qualquer que seja sua motivação?

O cristianismo considera positiva até a boa ação motivada pela culpa. Há ainda diversos relatos de Santos que tiveram uma considerável vida pregressa, às vezes entregue à luxúria ou à riqueza (cujo valor simbólico é negativo no cristianismo), e se redimiram, buscando uma vida dedicada a boas ações. Outras figuras de destaque do cristianismo – e até alguns personagens bíblicos – são descritos como portares de uma disposição natural para o bem.

Para Rousseau, o homem era naturalmente bom; a civilização é que atuava para corrompê-lo. Foi nessa época que surgiu o mito do bom selvagem, a teoria de que civilizações com menor grau de desenvolvimento, que viviam ainda em proximidade com a natureza e longe das invenções da civilização, eram naturalmente constituídas de pessoas melhores, com maior propensão de fazer o bem.

De certa forma, a teoria de Rousseau assemelhava-se às modernas teorias da tábula rasa, de que nascemos como uma página em branco, sendo gradualmente preenchida pela sociedade e pelos nossos pais, como se fôssemos só superego, na classificação de Freud. A teoria da tábula rasa não tem muito crédito científico. Assim, é muito provável que nossas propensões naturais tenham grande importância para nossa vida. Além disso, é bastante provável que não sejamos naturalmente bons nem maus, pois não somos unidimensionais.

É nesse contexto que interessa introduzir a visão de Kant sobre o assunto. Para Kant, o ato praticado como forma de troca, com objetivos utilitaristas, não tem valor moral. Em nosso exemplo inicial, praticar trabalho voluntário apenas para tornar o currículo mais atrativo ao mercado não apresenta valor moral.  Até aqui parece que sua visão se assemelha a de nossos moralistas contemporâneos.

No entanto, Kant sempre exige mais. Em seu edifício filosófico, a razão fornece a fundação, é o que sustenta toda sua filosofia. Para Kant, é a razão que deve governar nossas vidas. Kant constata que há pessoas naturalmente predispostas a fazer o bem. São pessoas generosas ou com muita empatia, que se preocupam verdadeiramente com o bem estar geral. Para Kant, boas ações praticadas por pessoas com inclinação natural para a generosidade ou para a empatia não dispõem de valor moral.

Nessa teoria, só aquele que se dispõe a refletir, só aquele que se apoia na razão e a partir dela atribui valor aos atos pode produzir ações moralmente superiores. É esse polêmico conceito de valor moral que queria apresentar no dia de hoje. Devo retornar a esse conceito no futuro para continuar discutindo moralidade.

Gustavo Theodoro

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