Schahin

Rede de Mentiras

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Lula declarou em 2005 que “a desgraça da mentira é que você passa a vida inteira contando mentira para justificar a primeira que você contou”. O caso Celso Daniel é a ilustração perfeita dessa declaração.

Celso Daniel exercia seu terceiro mandato como Prefeito de Santo André quando foi morto. Seu nome estava sendo cogitado para compor a equipe da campanha de Lula na eleição de 2002. Ocorre que Celso Daniel havia descoberto um esquema de propina envolvendo empresas de transporte municipal de passageiros em seu município.

Segundo a família do Prefeito, Celso Daniel preparara um dossiê apontando o montante desviado e os destinatários finais, que seriam pessoas ligadas ao Partido dos Trabalhadores.

Celso Daniel foi assassinado e até hoje não estão claras as circunstâncias de sua morte. A polícia de São Paulo seguiu o caminho do crime comum e o Ministério Público de São Paulo propôs a tese de crime de mando em face da possível denúncia que o ex-Prefeito faria sobre o esquema de corrupção.

Em 2004 um dos empresários que teria participado do esquema de propinas da Prefeitura de Santo André, Ronan Maria Pinto, estava, segundo depoimento de Marcos Valério, incomodado com as reportagens que o Diário do Grande ABC vinha publicando. Ainda segundo Marcos Valério, Ronan passou a chantagear o PT: queria dinheiro em troca de seu silêncio envolvendo o assassinato de Celso Daniel.

No mesmo ano, o amigo de Lula, José Carlos Bumlai, foi acionado para providenciar a solução para o problema. Para tanto, fez contato com o Banco Schahin e negociou a contratação de um empréstimo. O Grupo Schahim, segundo delação de seus sócios, queria abrir portas com o novo Governo. As reuniões para viabilizar o empréstimo tiveram participação de Delúbio Soares e Marcos Valério. Para comprovar que a empréstimo reforçaria os laços entre Shahin e o governo, José Dirceu telefonou para Milton Schahin.

O dinheiro foi liberado pelo Banco Schahin. Bumlai o repassou ao frigorífico Bertin, que o repassou a Ronan Maria Pinto. Os R$ 6 milhões foram utilizados para comprar o Diário do Grande ABC, silenciando-o quanto ao caso Celso Daniel. Isso tudo ocorreu em 2004.

No entanto, restava agora o empréstimo tomado por Bumlai que deveria ser pago ao Grupo Schahim. A Petrobras foi acionada para resolver a questão. Eduardo Musa, gerente da empresa, declarou que a compra do navio-sonda Vitória 10.000 era desnecessária. Havia um navio-sonda atuando na África, onde a possibilidade de encontrar petróleo já havia sido descartada. Porém, a dívida com a Schahin precisava ser paga.

Sérgio Gabrielli determinou a Nestor Cerveró que contratasse o Grupo Schahin. O contrato de compra do navio-sonda sem licitação foi aceito pelo Grupo Schahin como quitação pelo empréstimo concedido a Bumlai. Pela operação da sonda, os Schahin teriam que desembolsar em propina para o PT o valor de R$ 60 milhões (segundo Eduardo Musa) ou R$ 50 milhões (segundo Nestor Cerveró).

O navio-sonda custou R$ 1,6 bilhões à Petrobras. O negócio só deslanchou pela necessidade de o PT pagar a dívida resultante da chantagem de Ronan a respeito da morte de Celso Daniel. A Transocean seria a escolha natural para a operação do navio-sonda, mas a Petrobras optou por uma menos capacitada, sem licitação, para que a propina pudesse ser paga.

O intermediário do novo contrato, desta vez, foi João Vaccari Neto, tesoureiro do PT. Como o contrato só foi efetivamente assinado em 2009, era necessário que o negócio fosse garantido por alguém do governo, nos moldes do telefonema de José Dirceu em 2004. Foi então que José Carlos Bumlai disse a Fernando Schahin, filho de Milton Schahin, que o negócio estava “abençoado pelo Presidente Lula”. A partir daquele momento, Milton Shahin deu como certo que o negócio iria sair.

Um dia antes da assinatura do contrato entre o Grupo Schahin e a Petrobras em 2009, o empréstimo de Bumlai com o Banco Schahin foi pago, sem juros, com a contabilização de “embriões de gado de elite” entregues por Bumlai à Schahin. Tanto Bumlai quanto os membros da família Schahin já confessaram que a operação de venda de embriões foi simulada para que o empréstimo pudesse ser baixado.

A partir da assinatura dos contratos, o Grupo Schahin montou uma estrutura de offshores para pagar a propina exigida pelo PT e pelos funcionários da Petrobras, que foi paga a partir de 2009.

As delações e as provas obtidas pela operação Lava Jato indicam que a tentativa de ocultar a propina paga ao PT pelas empresas de ônibus de Santo André pode ter resultado na morte de Celso Daniel. Para esconder as reais circunstâncias desse assassinato, Dirceu, Lula, Delúbio e Vaccari teriam movido mundos para calar um chantageador com dinheiro público. Grandes grupos econômicos e a Petrobras foram envolvidos na desnecessária compra de um navio-sonda para dar ares de normalidade ao roubo que estava em curso.

Agora que toda a verdade veio à tona, é de se lembrar da frase de Émile Zola sobre o caso Dreyfus: “Se você cala a verdade e a enterra no chão, ela crescerá e acumulará tanto poder explosivo que, quando estourar, vai jogar pelos ares tudo que estiver no seu caminho”.

Não chega a ser surpresa a explosão do PT.

Gustavo Theodoro