Não se discute mais o estelionato político do PT. Está claro que o partido prometeu um cardápio, mas está entregando um prato diferente. Isso é fato. Espanta-me, no entanto, que a oposição, que denunciou o estelionato eleitoral do PT, se comporte de forma semelhante. Como pode o PSDB votar contra o ajuste fiscal e contra o fator previdenciário que eles próprios criaram?
Sei que vão me dizer que eu não deveria esperar nada mesmo de políticos, que são todos iguais, que na situação defendem a manutenção do poder e na oposição apostam no quanto pior melhor. Pode ser. Mas isso não nos impede de fazer uma cobrança por coerência. Nessa confusão em que estamos, torna-se impossível apoiar qualquer grupo.
É certo que a história nos ensina que pessoas excessivamente coerentes, muito racionais e éticas, não costumam ter grande sucesso na política. Pois a política exige, sempre, capacidade de recuar, de transigir e de compor. Mas o que ocorre em nossa política atual é muito mais do que isso. Há uma completa inversão de papéis, justificada por uma visão política de curto prazo, voltadas a paixões imediatas.
Sim, Robert Aron disse que, há algumas décadas, que é uma ilusão da experiência do nosso século supor que os homens sacrificarão suas paixões a seus interesses. É um pensamento inovador e surpreendente, mas muito aplicável ao momento atual. Era de conhecimento da maioria dos economistas que a política desenvolvimentista do Governo Dilma nos levaria ao ajuste fiscal de agora. A paixão pelo ideário igualitário, distributivista, com forte papel estatal, nos conduziu a esse desajuste que ora se apresenta, comprometendo os próprios interesses do PT.
Ao mesmo tempo, o PSDB, ao contribuir para o agravamento da situação das finanças públicas pelos próximos anos, não atua em favor do País. De certa forma isso pode aumentar suas chances eleitorais, mas adiciona dificuldade a um eventual futuro governo seu. Nesse deserto de estadistas, são as raposas que se criam e dominam o cenário. Enquanto assistimos à derrocada de PT e PSDB, é o PMDB que passa a dar as cartas. Alguém pode estar satisfeito com isso?
Gustavo Theodoro
Caro amigo:
Tenho a impressão, como você, que devemos continuar, sim, cobrando coerência na política. Ao contrário da sua opinião, contudo, acho que as situações do PT pré e pós-eleição e do PSDB são um tanto diferentes. Veja só: o PT sabia que as coisas não estavam como ele dizia, mas insistia no marketing contra a realidade. Desta feita, não podemos dizer que as condições mudaram ou que o tempo revelou que as impressões petistas iniciais eram equivocadas. Este não é o caso do PSDB. Porém, reconheço que isso não é completamente reconfortante. Penso, como você, que os tucanos estão apostando no “quanto pior melhor”. Só não acho que isso seja tão problemático, numa futura conquista do governo, quanto você indica. A solução, de primeiro momento, será o PSDB dizer que a vitória eleitoral veio acompanhada de uma “herança maldita”, e pronto. Fica até mais fácil tomar medidas impopulares, alegando que, diante do “problemão” deixado pelo governo anterior, não restava outra opção.
Grande abraço.
É Ricardo. O PT fez uma oposição do “quanto pior melhor” quando o Governo era o FHC. Eles votaram contra até a criação do Fundef. Quando assumiram, rasgaram seu programa e adotaram outro muito semelhantes o programa tucano. O PSDB fez uma oposição tíbia nos primeiros mandatos do Lula porque o PT estava executando, em grande medida, o seu programa de Governo. Mais uma vez o PT toma a mesma medida. Só que agora de forma muito mais descarada. Acho que dá para desmascarar o PT sem necessariamente jogar contra o País e contra o próprio programa do PSDB. Se o PSDB ainda se pretende apresentar como alternativa, é bom começar a seguir algum ideário e não flutuar com as marés, buscando, de forma casuística, o discurso adequado para o momento. Essa é minha crítica. Sob pena de PT e PSDB se tornarem muito parecidos.
Grande abraço,